No início de um processo terapêutico é como se o paciente chegasse com garrafões cheios de água ao colo, desgastado por todo o esforço que implica carregar esse peso.
“Quero tirar este peso de cima!”.
E se fosse fácil apenas largá-los, já o teria feito certamente antes de chegar aí.
Então, talvez seja preciso tomá-los no colo por mais um pouco, sentir-lhes o peso, as sensações e implicações. Até que um dia, cuidadosamente, seja possível desenroscar as tampas e deixar que a água entre em contacto com o exterior. E, por vezes, abrir os garrafões é o (aparente pequeno) acto possível num par de sessões terapêuticas. Só que, de tampa aberta, em cada movimento realizado com esses garrafões ao colo, saltam algumas gotas de água que aliviam, pouco a pouco, o peso. E o lugar da água preenche-se de ar. De ar leve, novo e refrescante. Quanto mais se movimenta, mais leve fica; quanto mais leve fica, mais se pode movimentar. Às tantas, os garrafões estão tão mais leves que podem ser carregados com uma mão só, deixando a outra livre para manusear com mais destreza e precisão.
Pode ser demorado este processo de despejo… enquanto se vai compreendendo quais os movimentos que libertam, enquanto se ajusta o caminhar com menos peso, enquanto se ouve de alguém: “saltou-lhe a tampa!”, enquanto se descobre o que as gotas de água libertadas podem regar. Pode ser demorado e turbulento esse andar destapado na vida, em contacto com ela, a perceber quais as circunstâncias que molham e fazem encher os garrafões e quais os movimentos que agitam e soltam água, permitindo entrar ar novo.
E quanto menos água há nos garrafões, mais difícil é fazê-la saltar. Para libertar essas camadas profundas é necessário mais movimento, mais energia, mais força! É preciso mudar-lhes o sentido, virá-los ao contrário, até que a última gota possa cair.
E, então, o paciente sai de um processo terapêutico mais leve, mais erguido e consciente de que a água quando flui, é leve.
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